CONCERTO #5 - 10 JUNHO - SDC '22


 Semana da Composição 2022 | 6 a 11 de junho

Escola Superior de Música de Lisboa

6ª Feira,  10 junho, 21h | Grande Auditório



Programa:


Agata Zubel  | Piano piano but not pianissimo - dois pianos

Dois Pianos: Malgorzata Walentynowicz


Marta Domingues | Brincar de Pensar - acusmática

Espacialização em tempo real - Marta Domingues

  Uma peça que nos quer levar numa viagem onírica por lugares estranhos, "Brincar de Pensar" é inspirada numa frase de Clarice Lispector, que nos diz: "Às vezes começa-se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar connosco."


Mariana Ribeiro | Ausência - dois violinos

Dois Violinos: Ricardo Salavessa e Beatriz Silva

Esta peça, escrita para dois violinos, é constituída por quatro pequenos duos. No seu todo, esta peça retrata a perda, sendo que cada duo representa um dos momentos característicos de todo o processo de luto - da ausência de alguém ou de algo.     O primeiro duo, “Recusa”, representa o estado de negação face à notícia da perda, tendo como características a sua agressividade e o seu peso.     O segundo duo, “Quietude”, apresenta um caráter introspetivo, íntimo e estático, que retrata a incerteza e a dúvida.     O terceiro duo, “Casa”, é caracterizado pela variação de um tema recorrente, que alude para a busca por soluções, num ambiente vazio e nostálgico.     O quarto duo, “Eco”, é um diálogo entre o violino I e o violino II, no qual ambos representam duas personagens: o violino I representa aquele que partiu e o violino II aquele que ficou. O violino I ecoa os gestos do violino II, sem que este último o percecione, e o violino II ecoa os gestos do violino I, sem se aperceber que o faz. É assim retratada a ideia de permanência daquele que parte, o resultado da busca por respostas: a permanência, apesar da ausência.


Luciano Berio | Thema, Omaggio a Joyce - acusmática

 Se a experiência da música electrónica é importante, e creio que o é, o seu significado não reside na descoberta de novos sons, mas na possibilidade que dá ao compositor de integrar uma área maior de fenómenos sonoros no pensamento musical, superando assim uma concepção dualista de material musical. Tal como a linguagem não é palavras de um lado e conceitos do outro, mas sim um sistema de símbolos arbitrários através do qual damos uma certa forma à nossa forma de estar no mundo, também a música não é feita de notas e relações convencionais entre elas, mas identifica-se com a nossa forma de escolher, moldar e estruturar certos aspectos do continuum sonoro. Os versos, a prosódia e as rimas não são mais uma garantia de poesia do que as notas escritas são uma garantia de música. Muitas vezes encontramos mais poesia na prosa do que na própria poesia e mais música na fala e no ruído do que nos sons musicais convencionais.

É dentro desta perspectiva geral que Thema (Omaggio a Joyce) para eletrónica, composta em 1958, deve ser abordada. Tentei interpretar musicalmente uma leitura do texto de Joyce, desenvolvendo a intenção polifónica que caracteriza o décimo primeiro capítulo de Ulisses (intitulado "Sirenes" e dedicado à música), cuja técnica narrativa foi sugerida ao autor por um procedimento comum de música polifónica: a fuga per canonem.

Nesta obra não fiz uso de sons produzidos electronicamente; a única fonte sonora é uma gravação da voz de Cathy Berberian lendo o início do décimo primeiro capítulo de Ulisses. O texto não é lido apenas na sua versão original inglesa, mas também nas traduções italiana (Montale) e francesa (Joyce, Larbaud).

Em Thema I estava interessado em obter um novo tipo de unidade entre o discurso e a música, desenvolvendo as possibilidades de uma metamorfose contínua de uma para a outra. Através de uma selecção e reorganização dos elementos fonéticos e semânticos do texto de Joyce, o dia do Sr. Bloom em Dublin (são 16 horas no Bar Ormond) toma brevemente outra direcção, onde já não é possível distinguir entre palavra e som, entre som e ruído, entre poesia e música; uma vez mais, tomamos consciência da natureza relativa destas distinções e do carácter expressivo das suas funções em mudança.


Rafael Baptista
| Dança No. 2 - dois pianos

Dois pianos: Maria Catarino e José Maria


Diogo Alves Batista | Patacão - acusmática (Obra Cancelada)


José Carlos Sousa | alliveS - guitarra clássica e eletrónica

Guitarra - Rúben Monteiro  

Esta obra resulta de uma encomenda do Festival de La Guitarra de Sevilla.

A construção da obra assenta na exploração tímbrica da guitarra, expandida pela eletrónica.

A eletrónica é utilizada, principalmente, na realização de uma metamorfose sonora dos elementos e gestos característicos da guitarra, assim como de explorações tímbricas do mesmo instrumento, criando assim novos ambientes sonoros.

O guitarrista desempenha as funções de ator principal na execução desta obra, mas os sons provenientes da guitarra, vão ser desenvolvidos pela eletrónica, que o acompanha num processo dialético em que som da guitarra e som eletrónico se fundem numa identidade sonora por vezes complexa e com timbres multifacetados.
alliveS, é dedicada ao guitarrista espanhol Francisco Bernier. 


Carlos Marecos
| Lá vai o sol doirar os meus impérios

Soprano e Piano: Claúdia Anjos

Esta peça é uma ária da ópera de Câmara, O FIM - Ópera Íntima, baseada no texto teatral de António Patrício com libreto de Paulo Lages, pertencendo ao I quadro da ópera dedicado à personagem da Rainha. A personagem é inspirada em D. Maria Pia, e na loucura que a teria acometido após o regicídio de 1908), consumida pela dor, diz embalar a morte e vai regando as flores de um tapete. 
Nesta ária a Rainha começa por reviver as memórias de um passado luminoso, cantando docemente com grande delicadeza e intimidade. Nas estrofes seguintes o seu canto torna-se mais sombrio voltando a pensar no presente, de árvores sem flor, a um sol que morreu, aos gritos dos pavões, onde atinge uma maior intensidade operática. A dor e a solidão fazem-na lembrar-se da morte, e na sua loucura e solidão, imagina as árvores a prestarem-lhe reverência, terminando com uma última estrofe de significado algo enigmático.

Lá vai o sol doirar os meus impérios...

Desce as águas do mar.

É a hora em que as velas dos navios

Querem ser asas e poder voar...

 

Pouco a pouco, as janelas

Abrem os olhos: têm pupilas de oiro...

Dir-se-ia que em toda a casaria

Começa a reflectir-se o meu tesoiro...

 

Em sombra o meu jardim... Sonha comigo.

São do meu tempo as suas árvores sem flor...

Foi a um sol que morreu, a um sol antigo,

Que o jardim teve frutos e eu amor...

 

Olha na fonte seca os meus pavões!...                

Ouve-os gritar?...

Seguem-me pelas ruas do jardim...

Pavões reais, caudas abertas, a radiar...

Vai a Rainha entre eles, lentamente...

E a sentinela a rir!... Deixá-la rir!... Que importa!...

Quero ir vestida de pavão quando for morta.

 

Está escuro o jardim.

Gosto das árvores que fazem reverências

Quando eu passo...

E das folhas a dizer baixinho:

«Olha o cortejo da Rainha a sair do Paço!...»

 

Ontem de tarde

Prendi a cauda num cipreste ao passear...      

Coitado! Cuidou talvez que era uma morta...

Queria amar.


Mariana Vieira | The Unexpected Encounter with Diversity - acusmática

Espacialização em tempo real - Mariana Vieira

O título é oriundo dos escritos de Maria Gabriela Llansol, onde em jeito de diário confluem personagens de tempos e realidades distintas. O ato de pegar em sons e alinhá-los ao meu gosto sempre me pareceu um pouco a mesma coisa. Como conciliar sons de naturezas distintas numa única unidade? Como abordar o facto de certos sons serem, aos nossos ouvidos, mais “abstratos” do que outros? Que novos significados emergem quando sons do quotidiano são apresentados fora do seu contexto habitual? Estas questões estão sempre presentes no meu trabalho de composição, particularmente nos últimos dois anos.

Nesta peça, exploro maioritariamente processos de síntese granular. Este tipo de síntese sonora divide um sample em pequenas partes (com duração entre 1 e 50 ms) e reproduz esta divisão segundo parâmetros previamente estipulados.

Em termos do material sonoro, interessou-me explorar a interação entre gravações de campo (utilizo fontes como cigarras, sinos, vozes em close-up e captura de ambiente, ou sons mecânicos de um tear) e samples recolhidos numa improvisação feita com um sintetizador modular.

Em termos de organização formal da peça, está dividida em quatro momentos que partem de uma representação visual do som, que tentarei expor por palavras:

1. Ondulação de densidades
2. Nuvem com interferências
3. Linha com interferências
4. Ondulação de alturas


Érica Liane | Lautan Pasifik

Flauta: Gonçalo Ramos

Violoncelo: Pedro Massarrão

Vibrafone: Raúl da Eira 

Piano: Sérgio Lopes

Nos litorais do Bornéu, existe um povo nómada intitulado de “Os Ciganos do Mar”. Sobrevivem com a sua própria versão de pesca submarina – e com a sua alta capacidade de apneia, habitando em casas sobre as águas calmas do litoral, em contacto, respeito e harmonia com a natureza que o rodeia.

Esta peça pretende retratar o Oceano Pacífico ouvido por uma criança desta tribo que dá um mergulho para o mar. Podemos sentir os restantes habitantes do oceano, a sua calma e as suas tempestades.