Concerto Laboratório de Música Mista José Luís Ferreira ESML


 

 


Concerto do Laboratório de Música Mista José Luís Ferreira
Auditório Vianna da Motta - ESML

Terça-feira, 21 de Junho 2022
 
Obras de
Francisco Pessanha,
Mariana Vieira,
João Pedro Oliveira,
Carlos Marecos
 
 
Flauta/Flautim - Alba Pérez
Clarinete/Clarinete Baixo - Henrique Borges
Piano - Manuel Prata / Francisco Costa
Violino - Veronika Taraban
Violoncelo - Inês Vaz Torres
Direção - Ricardo Monteiro
Assistência Técnica: Pedro Sebastião
Coordenação Técnica: Carlos Marecos, Sérgio Henriques
 

1) Francisco Pessanha | 192.102 - piano e electrónica (2016)
192.102 é uma obra realizada a partir da música de cena para “As Criadas” de Jean Genet, na encenação de Simão do Vale. Dedica a Francisco Monteiro.
Peça editada no projeto “21 peças do Século XXI”, pela AVA, dedicado a repertório didático para instrumentos e electrónica, criado, produzido, gravado e concebido pela associação EMSCAN.

2) Carlos Marecos | A Casa do Cravo - piano e eletrónica em tempo real (2019)
Esta peça resulta de uma encomenda do Festival DME num contexto de um projecto sobre paisagem sonora. Assim, a peça inspira-se na paisagem alentejana, no vazio, no silêncio, nos sinos que interrompem o silêncio. Por outro lado surgem as memórias do 25 de Abril de 1974. No entanto, esta não é uma peça sobre o "verão quente", mas sim sobre as terras e as paisagens alentejanas, sobre as memórias das pessoas dessa região que viveram intensamente esse período. Algumas dessas memórias estão presentes na parte central da peça, onde é parafraseada no piano a "Grândola Vila Morena" do Zeca Afonso e citadas na electrónica excertos de canções do Sérgio Godinho, José Mário Branco, dos GAC e novamente do Zeca Afonso. No final, essas memórias diluem-se na paisagem sonora alentejana.
Na parte electrónica da peça foram incluídas gravações de rádio de 1974-75, feitas por mim em fita, entre os meus 10 e 11 anos, entretanto recuperadas. Em inúmeros acontecimentos que se viviam nas ruas no "verão quente" de 75, a minha família estava na rua e quando não era aconselhado eu ir, dada a minha idade, ficava em casa a gravar as reportagens em directo que se faziam desses acontecimentos na rádio.
A peça remete ainda, de forma subtil, para um episódio em 1979, onde na mesma terra da casa do cravo, dois habitantes foram mortos num conflito na altura da restituição de terras no Alentejo, no final do período da reforma agrária.
Desde essa altura muitas utopias se esfumaram mas ficou a memória de milhares de pessoas nas ruas, que puderam experienciar a liberdade a passar pelas suas vidas, de uma forma talvez exagerada e sôfrega mas genuína; tudo era muito urgente… Como diz o Sérgio Godinho numa das suas canções: “Esperar tantos anos torna tudo mais urgente”
É, assim, na alegria e na melancolia de revisitar esse período, que esta peça se inspira.
Como disse também uma vez o José Mário Branco: “Valeu a pena tanta luta? Sim Valeu…

3) Mariana Vieira | Retracement (2021)
Retracement para ensemble e electrónica construiu-se como uma teia de pequenos objectos sonoros instrumentais que se interligam através dos sons electrónicos - provenientes, entre outras fontes, de um sintetizador modular. Uma exploração livre e densa dos timbres únicos que cada elemento pode trazer a cena e, principalmente, de como estes se podem associar e transformar.

4) João Pedro Oliveira | Timshel (2007)
Esta obra foi composta na mesma época em que eu lia o romance de Steinbeck, East of Eden. Timshel (palavra hebraica que significa "tu podes...") ocupa um lugar elementar neste romance e diz respeito à capacidade de escolha dada ao ser humano. No processo de composição somos confrontados com muitas escolhas, e o trabalho final é o resultado das opções que fizemos. O mesmo acontece na vida. As escolhas feitas em um momento específico influenciam o futuro de nossa existência. Timshel é uma composição onde manifesto alegria e gratidão pelas escolhas que fiz corretamente e tristeza pelas que falhei. Timshel foi encomendada pela MisoMusic e recebeu o Prémio Especial Giga-Hertz.




1) Francisco Pessanha (Viseu, 1984) Natural de Viseu. É licenciado em Estudos Artísticos pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2007) e mestre em Estudos Artísticos pela mesma faculdade (2012). É pós-graduado em Estudos Europeus pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (2011). Actualmente é doutorando em Ciências Musicais Históricas pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É investigador do CESEM - Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. É bolseiro de investigação da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia. Paralelamente aos estudos universitários frequentou cursos e acções de formação na área da programação e gestão cultural e financiamento de projectos culturais. Frequentou ainda diversos cursos de aperfeiçoamento de composição musical com Karlheinz Stockhausen, Emmanuel Nunes, Annette Vande Gorne e Jaime Reis. Cursou o mestrado em Música no Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro (2008) tendo estudado composição com Virgílio Melo e análise musical com João Pedro Oliveira e Isabel Soveral. Em 2010 foi bolseiro do programa de estágios internacionais INOV-Art (DGArtes) tendo sido o único bolseiro (de um total de 220) a ser seleccionado para a área artística da música. No âmbito desse programa estagiou na Bélgica no estúdio de música acusmática Musiques et Recherches. Foi assistente de produção responsável por diversas tarefas relacionadas com a produção executiva do Festival Espace du Son 2010 em Bruxelas. Desempenhou ainda tarefas de catalogação e organização documental relacionada com o funcionamento do estúdio e do seu centro de documentação. Paralelamente ao estágio desempenhou tarefas de consultoria de gestão cultural visando a operacionalização do centro de documentação do Musiques et Recherches. Na área da programação e gestão cultural destacam-se a direcção executiva do Festival Dias de Música Electroacústica em Coimbra (2010) e os trabalhos de consultoria de gestão cultural prestados ao Teatro  Académico de Gil Vicente (2012), EMEQuatro (2012) e Associação António Fragoso (2013) — com diversos graus de operacionalização das estratégias propostas em projectos e memoranda. Na área do ensino destacam-se os trabalhos feitos como docente na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto (2015/2016), como formador na Escola Profissional Balleteatro Contemporâneo do Porto nos anos de 2014 e 2015 e na Escola Profissional da Lousã no ano lectivo de 2012/2013. Destacam-se ainda os seminários ministrados na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto (2015 e 2016), Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra (2014) na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra concentrando o enfoque na música portuguesa do século XX (2013). Na área da composição — a área artística de eleição — destaca-se o trabalho feito para vários espectáculos de teatro levados à cena no Porto (TeCA: Teatro Carlos Alberto/TNSJ), em Coimbra (TAGV) e Viseu (Teatro Viriato).


2) Carlos Marecos (Lisboa, 1963).
Iniciou os estudos musicais oficiais na Academia de Amadores de Música.
Licenciou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, em 1999,  onde estudou, entre outros, com Eurico Carrapatoso, António Pinho Vargas e Christopher Bochmann.
Doutorado em Música pela Universidade de Aveiro (2011),  onde apresentou a tese "Interacção entre estruturas intervalares e estruturas espectrais na música instrumental/vocal", sob a orientação científica de João Pedro Oliveira e Christopher Bochmann, como bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Foi-lhe atribuído o Prémio Lopes Graça de Composição de 1999 com a obra Canções Populares Portuguesas para soprano e piano, e, pelo segundo ano consecutivo, ganhou o mesmo prémio na edição de 2000 com a obra 5 miniaturas para violoncelo solo.
É director musical do Ensemble Portátil com o qual tem desenvolvido, desde 1998, um trabalho na área da música contemporânea e na harmonização de música tradicional portuguesa.
Com o ClusterLAB ensemble, tem desenvolvido ainda, desde 2011, um trabalho regular de laboratório com obras obras de estudantes da ESML, bem como com obras de repertório dos séc. XX e XXI, com ensaios colaborativos entre os instrumentistas e compositores, antes da apresentação em concerto. Para além de se apresentarem em inúmeras salas em Lisboa e pelo país, Carlos Marecos tem também apresentado este ensemble em salas não convencionais, no desenvolvimento do seu projecto de investigação de música para espaços específicos.
Tem recebido encomendas de diversas entidades como a Culturgest, o Serviço Acarte da Fundação Calouste Gulbenkian, a Expo 98 de Lisboa, Orquestra de Clarinetes de Almada, Orquestra Utópica, Festival Internacional de Música do Estoril, Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça, Escola Superior de Artes Aplicadas e Conservatório Regional de Castelo Branco, Associação Dedicarte de Setúbal, MPMP - Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, Festival DME - Dias de Música Electroacústica, entre outras.
Tem colaborado com o teatro e a dança contemporânea, com os encenadores João Brites, Raul Atalaia, Luís Miguel Cintra, Paulo Lages e José Russo e as coreógrafas Madalena Victorino, Vera Mantero e Sofia Silva.
Desde 2002 Marecos tem desenvolvido um trabalho regular com peças encenadas com uma equipa de artistas como a soprano Margarida Marecos, o actor e encenador Paulo Lages, o actor Guilherme Filipe, o cenógrafo Acácio de Carvalho e a figurinista Manuela Bronze; desde então já apresentaram os seguintes trabalhos:
- La Serva Padrona / A Criada Patroa (2002), uma versão moderna com sua orquestração e encenação de Paulo Lages do intermezzo musicalle de Giovanni Battista Pergolesi, espectáculo subsidiado pelo Ministério da Cultura / IPAE, sob a direcção de Humberto Castanheira.
- “Caminho ao Céu” (2003), peça musical destinada a ser encenada por Paulo Lages e encomendada pela Culturgest no seu décimo aniversário, sob a direcção de Cesário Costa.
- “O FIM – Ópera Íntima” (2004), ópera de câmara com música sua e libreto de Paulo Lages, com base numa peça de António Patrício, espectáculo estreado no Centro Cultural de Cascais, subsidiado pelo Ministério da Cultura / IA, sob a direcção de Humberto Castanheira.
A sua música tem sido apresentada em Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Itália, Dinamarca, Brasil, Colômbia e EUA.
Lecciona  actualmente na Escola Superior de Música em Lisboa (ESML), onde coordena o ramo de Composição e a Licenciatura em Tecnologias da Música.

3) Mariana Vieira (Sintra, 1997) estudou Composição na Escola Superior de Música de Lisboa com os professores Carlos Caires e Jaime Reis. Frequenta, actualmente, o Mestrado em Ensino de Música na mesma instituição.
O seu catálogo inclui música acusmática, mista e instrumental a solo, camerística e orquestral, bem como peças colaborativas interdisciplinares.
A sua música foi apresentada em festivais como Young Euro Classic (Alemanha), L'Espace du Son (Bélgica), Audio Art (Polónia), Electroacoustic Music Days (Grécia) Crossroads (Áustria), Monaco Electroacoustique (Mónaco), Aveiro_Síntese e Música Viva (Portugal).
Além da sua produção composicional, interessa-se por desenvolver projectos artísticos e pedagógicos que combinem música e tecnologia, atividade que concretiza enquanto diretora de produção do Festival DME, colaboradora ativa no espaço Lisboa Incomum e membro da associação EMSCAN.
Em 2017, a sua peça "Raiz", escrita para a Jovem Orquestra Portuguesa (JOP), venceu o European Composer Award.
Desde 2021, é também Professora Assistente na Escola Superior de Artes Aplicadas (Castelo Branco, Portugal).

4) João Pedro Oliveira (1959) ocupa o cargo de Corwin Endowed Chair em Composição na Universidade da Califórnia em Santa Barbara (Estados Unidos da América). Estudou órgão, composição e arquitectura em Lisboa. Concluiu o doutoramento em Música na Universidade de New York em Stony Brook. A sua música inclui obras orquestrais, música de câmara, música eletroacústica e vídeo experimental. Recebeu mais de 50 prémios internacionais pelas suas obras, incluindo três prémios no Concurso de Música Electroacústica de Bourges, bem como os prestigiados Magisterium e Prémio Giga-Hertz, o 1º Prémio no concurso Metamorphoses e o 1º Prémio no concurso Musica Nova. Foi professor na Universidade de Aveiro e na Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil). Publicou diversos artigos em revistas nacionais e internacionais, e escreveu um livro sobre teoria analítica da música do século XX.