Semana da Composição + Noise Floor 2024 | Programa 2ªF, 27 Maio

 2ª Feira, 27 de Maio

NoiseFloor | 10h - 18h (Programa completo de 27-29 Maio aqui)

9h30 | Registo

11h-12h,  Sala 0.100 (Cesem-IPL) | Paper Session A1
Michael Trommer: Spectral Sound Systems: Mapping the Mnemonic Soundscape
Bihe Wen: Reimagining Tradition: Composing 'Immemorial/Flux' for Prepared Guzheng
Luca Danieli: Analysis of events perception and noisy components in four electroacoustic music works

Moderador / Chair: Marc Estibeiro

13h-14h,  Sala 2.21 | Paper Session A2
Berk Yagli: Zen of Aggression: Composing the Transformational Hybrid
Sara Pinheiro: Noise Pollution and Sound Beyond Sound

Moderador / Chair: John Young

14h30, Sala 0.100 (Cesem-IPL) | Paper Session A3

Bonjour Claude, Amy Jolly & Ellen Sargen, On: Being Watched
Norah Lorway, Edward Powley, Arthur Wilson: ChatGPT as a Coding Assistant for Algorithmic Composition in Scorch
Vincent Meelberg: The Playfulness of Performing with Sequences

Moderadora / Chair: Lauren Redhead

16h30, Pequeno Auditório | AV Concert 1

Geraldine Timlin and Pedro Rebelo, Silent Spring [ca. 7']
Philippe PasquierAutolume Mzton [ca. 6']
Jérémie MartineauDistractions, Horizons [ca. 5']
Alessio RossatoISTANTE VERTICALE [ca. 13']
Marc Estibeiro and Dave PaylingCircle Traces [ca. 8']
Vera IvanovaMelancholy [ca. 6']

18h, Sala 2.21 | Paper Session A4

Joe Bates: The Affordances And Aesthetics Of Restriction In Digital Intonation
Hubert Howe: Overtone Music

Moderadora / Chair: Rita Torres


Concerto Final | 20h, Grande Auditório

Programa:

Dai Fujikura, HOP
Trio ARO
Diogo Cocharra, clarinete
Adriana Gonçalves, violoncelo
Miguel Perdigão, piano

Stefano Catena (Noise Floor), Travelling Without Moving (acusmática)

António Sousa DiasMise en page #2 (quinteto e electrónica)
Laboratório de Música Mista
Luís Vieira, maestro
Mattia Giusteto, eletrónica
Bruna Pinto, Flauta
Henrique Fialho, clarinete
Ana Sofia Faria, violino
Maria Francisca Marques, violoncelo
Antonio Narciso, piano

John Young (Noise Floor)Arioso (acusmática)
John Young, espacialização

Nuno Coelho CastellanosSuíte Italianada
Alexandre Jesus, clarinete
Margarida Vieira, violoncelo
Beatriz Pereira, piano

György KurtágQuasi una Fantasia (para grupos instrumentais) [ca. 10']
ClusterLab


Notas de Programa:

Dai Fujikura, HOP
Trio ARO
Diogo Cocharra, clarinete
Adriana Gonçalves, violoncelo
Miguel Perdigão, piano

"Sempre achei um desafio escrever trios para piano.
Escrevi vários no passado, durante os meus tempos de estudante. Um deles até recebeu algum tipo de prémio, penso eu. Mas não fiquei satisfeito com nenhum deles.
Por isso, uma manhã, provavelmente depois de um mau café, retirei todos eles. Todos os meus trios de piano foram escondidos algures, para não serem encontrados.
De vez em quando alguém “detecta” a existência destes trios e perguntam-me se a obra pode ser executada.
Muitas vezes minto, dizendo que a obra não existe, ou pior ainda, “não é minha”.
Portanto, esta nova peça, Hop, é de facto a minha vingança pessoal.
Vingança do meu antigo eu e dos meus antigos trios de piano.
Dito isto, o processo de composição de Hop foi muito alegre.
Surpreendente.
Talvez envelhecer seja uma coisa boa. Pelo menos sinto que posso compor um trio de piano com alegria.
Musicalmente falando (acho que devo falar sobre isso, uma vez que é suposto ser uma nota de programa), queria fazer uma reflexão com as ideias do violoncelo e do clarinete contra as do piano. Portanto, começa assim.
Depois de reescrever várias vezes a secção de abertura, de consultar a minha mulher, que é uma ex-violoncelista, e de a mostrar também ao violoncelista do Trio Catch (que está a fazer a sua estreia mundial), a parte do violoncelo tornou-se bastante complicada.
Voltemos à ideia do reflexo. É como uma bola que salta, mas uma daquelas bolas que não salta como se espera. Uma bola rebelde. Quando uma super-bola bate acidentalmente numa superfície não uniforme, salta numa direção inesperada. É assim.
Tenho a certeza de que se lembram de um tempo em que eram crianças e passavam o dia a atirar bolas, algo assim é universal, como a música, talvez.
Então temos a abertura.
Não sou grande fã da partilha de material musical entre instrumentos de “sustentação” e o piano, o que acontece muito na música clássica.
No entanto, o som dos três instrumentos quando são tocados rapidamente, mesmo com piano, combinam bem sonoramente. Pelo menos para o meu ouvido.
Algumas texturas criadas pelos três instrumentos são cintilantes. É como ver a superfície da água suave num belo lago na Suíça, com o sol a refletir-se nela, criando um brilho cintilante mas calmo.
Isso evolui para uma secção mais lírica. Um fragmento do cintilar cresce subitamente em frases. Imagino-o como uma imagem rápida de como os ramos das árvores crescem.
Gosto das características do piano. Quando se tocam as teclas de um piano, o som degrada-se naturalmente. Esta degradação do som do piano é automática. Não há nada que se possa fazer, é o diminuendo mais natural.
Dentro desse labirinto do diminuendo natural, o clarinete e o violoncelo entram e saem, fazendo cócegas nos nossos sentidos. Ou pelo menos é o que eu espero."

Dai Fujikura (editado por Alison Phillips)

Stefano Catena (Noise Floor), Travelling Without Moving (acusmática)

"Travelling Without Moving" is a journey in acousmatic composed spaces and environments, from granular rainy textures to sonic trajectories circling around the listener. The concepts of "journey" and "motion" are investigated musically: the experience "moves" between soundscapes, leading to always-changing sonic worlds, both from the spectral and spatial perspectives. The piece was composed during a residency at the Royal College of Music in Stockholm, and most of the atmospheres are inspired by the acoustic experiences I had during my stay in the city. More importantly, the spatial component of the music is paramount, as the piece was composed for the 29.4 partial dome system hosted in Lilla Salen.

“Travelling Without Moving” é uma jornada por espaços e ambiências acusmáticas, de texturas granulares a trajectórias sonoras em torno do ouvinte. Os conceitos de “jornada” e “movimento” são investigados musicalmente: a experiências “move-se” entre paisagens sonoras, levando a mundos de som em mudança constante, tanto da perspectiva espectral como da espacial. Esta peça foi composta durante um estágio no Royal College of Music em Estocolmo, e a maior parte das atmosferas foram inspiradas pelas experiências acústicas que eu tive durante a minha estadia. Mas principalmente, o componente espacial da música tem primazia, já que a peça foi composta para o sistema parcial de domo 29.4 que equipa o Lilla Salen (“Pequeno Salão”, auditório).


António Sousa DiasMise en page #2 (quinteto e electrónica)
Laboratório de Música Mista
Luís Vieira, maestro
Mattia Giusteto, eletrónica
Bruna Pinto, Flauta
Henrique Fialho, clarinete
Ana Sofia Faria, violino
Maria Francisca Marques, violoncelo
Antonio Narciso, piano

Encomenda do Ensemble DME.
Mise-en-page #2 resulta do desejo de expandir para uma obra para ensemble e electrónica, os materiais electrónicos da obra do mesmo nome, composta em 1990. Este projecto, que ficou "na gaveta" durante mais de trinta anos, foi possível concretizar graças ao desafio do Ensemble DME, através de Jaime Reis.
A expansão dos materiais, originalmente realizados nos estúdios dos Ateliers UPIC, foi alargada à inclusão de outros materiais e uso de técnicas que fui elaborando ao longo dos anos, mantendo, contudo, ligação com a proposta inicial, um estudo de momentos, de justaposição de páginas - assim se chamavam as diferentes visualizações no UPIC -, onde acontecimentos dialogam e cedem o lugar a outros acontecimentos, ilhas nos oceanos dos sons, como um contraponto em forma de nevoeiro.

John Young (Noise Floor)Arioso (acusmática)

The composition of Arioso grew from a soundscape experience on a humid September night in Tappan Square in Oberlin, Ohio, where a chorus of crickets and the constant electronic beep of pedestrian crossing signals formed a texture of cyclically interlocking pitch and throbbing granular noise. My field recording of this unlikely duet between the purity of an artificial pulsing tone and the spatially rich stridulation of insects underpins the structure of the piece. A flock of jackdaws circling in flight near my home just after dawn provides another window on the world of natural sound, supporting the work’s emphatic rhythmic shapes. While the form might be loosely thought of as reflecting the traditional recitative-like ‘arioso’, the title (arioso = ‘airy’) is also intended to be more deeply indicative of the atmosphere of sensual mystery I found with the air set in vibrant motion that night in Oberlin. Arioso was realized in 2021 in the Music, Technology and Innovation Research Laboratory at De Montfort University, Leicester, UK, in stereo format, and was premiered at St. Ruprechtskirche, Vienna, 13 June 2021, diffused by Thomas Gorbach.  Arioso was awarded the audience prize ex aequo at the 15th Destellos International Competition of Electroacoustic Music, La Plata, Argentina, 2022.

A composição de Arioso nasceu de uma experiência sonora numa noite húmida de setembro no Tappan Square em Oberlin, Ohio, onde um coro de grilos e o ruído eletrónico constante de peões a atravessar formaram uma textura de alturas encadeadas ciclicamente e ruído granular pulsante. Minha gravação de campo deste dueto improvável entre a pureza de um tom artificial pulsante e a estridência espacialmente rica dos insetos sublinha a estrutura da peça. Um bando de gralhas revoando perto da minha casa logo após o amanhecer fornece outra janela para o mundo do som natural, reforçando as formas rítmicas da obra. Apesar da forma poder ser vista como refletindo o tradicional, quase recitativo ‘arioso’, o título (arioso = “aeroso”) pretende também ser mais indicativo da atmosfera de mistério sensorial que eu encontrei no ar vibrante daquela noite em Oberlin. Esta peça foi realizada em no Music, Technology and Innovation Research Laboratory na De Monfort University, em Leicester, Reino Unido, em formato estéreo e foi estreada em na St. Ruprechtskirche (igreja de São Ruperto) em Viena, a 13 de junho de 2021, com a difusão de Thomas Gorbach. Arioso foi premiada com o prêmio de audiência ex aequo na 15ª edição da Destellos International Competition of Electroacoustic Music, em La Plata, Argentina, 2022.


Nuno Coelho CastellanosSuíte Italianada
Alexandre Jesus, clarinete
Margarida Vieira, violoncelo
Beatriz Pereira, piano

Isto não é uma nota de programa.

I.  Saltarellino - II. Gondoletta - III. Tarantella


György KurtágQuasi una Fantasia (para grupos instrumentais) [ca. 10']

ClusterLab:
Maria Catarino, piano
Pedro Gouveia, tímpanos
Leonor Soares, flauta
Sofia Rosa, oboé
Gonçalo Costa, clarinete
Hélia Varanda, clarinete baixo
Cláudia Benedito, contrafagote
Ana Siroruca, trompa
Guilherme Lopes, trompete
Rodrigo Freitas, trombone
João Alho, tuba
Óscar do Fundo, percussão
João Leitão, percussão
Tomás Jesuíno, percussão
Bruno Pedreira, percussão
Lea Sofie Cabeca, harpa
António Narciso, teclado
Beatriz Pereira, teclado
Caio Rodrigues, harmónica bocal
Miguel Moura, harmónica bocal
Nuno Castellanos, harmónica bocal
Tiago Simas, harmónica bocal
Paula Galiana, violino
Maria Guerreiro, violino
Íris Almeida, viola
Carolina Veneno, violoncelo
Diogo Pereira, contrabaixo
Carlos Marecos, direção

Com esta obra, dedicada a Zoltán Kocsis e Peter Eötvös, Kurtág parece estar a procurar novas direcções. Apesar de durar apenas cerca de nove minutos, os seus quatro andamentos são relativamente mais cheios do que nas composições anteriores, especialmente pela ausência de quaisquer princípios extramusicais. Acima de tudo, porém, testemunha um interesse sem precedentes pelas possibilidades da orquestra. Kurtág utiliza combinações instrumentais incomuns, num alinhamento até então desconhecido na sua produção: as cinco harmónicas criam um timbre verdadeiramente inédito; a percussão é abundante e desempenha um papel principal, particularmente com os tímpanos.

Foi também a primeira vez que Kurtág se preocupou com a espacialização do conjunto na sala de concerto. Os instrumentos são divididos em vários grupos e, se a sala o permitir, em diferentes níveis. Esta distribuição é particularmente necessária no segundo andamento, onde ajuda a clarificar a estrutura contrapontística por estratos.

O primeiro andamento, quase impercetível, envolve o piano com o ruído das percussões, que se ecoam umas às outras. E a obra abre com uma escala distante e calma de Dó maior, irreal na sua simplicidade soberba. O segundo andamento mantém a mesma dinâmica, desta vez como que num sonho inquieto. Ao lado do piano, os tímpanos recebem uma parte de raro virtuosismo. O recitativo que se segue irrompe com uma intensidade ainda maior.

A ária final contém uma citação do poema de Holderlin - Andeken. Este andamento é, de facto, uma reescrita de uma peça anterior, o quinto dos Microludes para quarteto de cordas de 1978. Cada frase do original é repetida ou ligeiramente amplificada, com ligeiras mudanças rítmicas entre as diferentes superfícies sonoras. O mesmo material sonoro é assim reutilizado, assumindo dimensões inesperadas e revelando, em retrospetiva, o espaço exíguo a que foi confinado no seu primeiro tratamento. Nos compassos finais, e de forma reminiscente de Bartók, os tímpanos retomam os últimos fragmentos de melodia, perdendo-se como que num eco de uma atmosfera rarefeita.


Equipa Técnica:

Lucas Granato
António Aguiar
Afonso Pires
Daniel Borda D'Água
Gabriel Brandão
José Gomes
Tiago Soares
Professor Sérgio Henriques, coordenação